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De onde Walmor tirou essa ideia romanticamente esdrúxula? “Isso foi coisa de juventude. Muito cedo decretei para mim mesmo que Deus não existia e, no meu inconsciente, o fato de renegar a religião teria de ser punido. Comecei a achar que ia morrer com a idade de Cristo.” O octogenário Walmor volta e meia aterrissa em São Paulo – e acampa na Vila Mariana –, mas gosta mesmo é de viver em Guaratinguetá, bem longe da agitação urbana. “Vivo feliz, sozinho, bem bicho do mato. Estou ditando minhas memórias, vejo novelas, filmes.”
Avenida Brasil, ele não perde. “Carminha é uma grande personagem e Adriana Esteves está muito bem. Nina é mais monocórdica, o que prejudica Débora Falabella.” Walmor dita suas memórias porque admite que anda com problemas de visão. “Para ver TV, tenho de grudar a cara no aparelho. Ouço sua voz, vejo uma mancha, mas não consigo discernir as feições. Mas o médico já me garantiu que cego não vou ficar.” Anda com problemas de açúcar no sangue. “O endócrino disse que tudo o que vem da terra tem açúcar e não é bom para mim. Faço uma dieta leve. Adorava cenoura, beterraba, mas a cozinheira cortou. Essa coisa de ficar velho é uma m… Só pode ser louco quem acha que é a melhor idade.”
O discurso pode induzir o leitor a pensar que Walmor Chagas virou um velho ranzinza. Nada disso – estrear um novo filme com essa idade é motivo de alegria. Começar de novo. Foi o universo do teatro que o levou a querer fazer Cara ou Coroa? “Foi o roteiro, achei muito bom.” O filme é sobre uma companhia de teatro e o romance do dramaturgo, irmão do diretor, com a filha de um general. A garota, por causa do namorado, esconde subversivos no porão. Há controvérsia, no final, se o militar sabia ou não. “Essa ambiguidade era o que havia de mais atraente no personagem, mas não sei se consegui passar para o público.”
Autocrítica
O excesso de zelo é próprio do grande ator. “Havia visto o filme em DVD, ontem foi a primeira vez na tela. Nunca gosto de me ver. Para mim, a melhor interpretação é a de Otávio Augusto. Que ator maravilhoso!” Otávio Augusto faz o irmão do dramaturgo, um motorista de táxi reacionário que parece encarnar a alienação do brasileiro médio em 1971, nos duros anos do regime militar, quando se passa a história. Há um narrador que, no começo e no fim, reflete sobre aquele período e conclui: apesar das dificuldades, com o retrospecto ele tem a sensação de nunca haver sido mais feliz.
Em 1971, a lendária mulher de Walmor, Cacilda Becker, já havia morrido. Ela havia sido a encarnação da resistência da classe teatral nos anos de chumbo. Cacilda era guerreira. “Ao contrário de mim, ela era muito religiosa. Carregava um complexo de culpa por transgredir, mas eu não queria saber e a empurrava.”
Fonte: Boa Informação
Em 1971, a lendária mulher de Walmor, Cacilda Becker, já havia morrido. Ela havia sido a encarnação da resistência da classe teatral nos anos de chumbo. Cacilda era guerreira. “Ao contrário de mim, ela era muito religiosa. Carregava um complexo de culpa por transgredir, mas eu não queria saber e a empurrava.”
Fonte: Boa Informação
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