"Eu não tenho idade. Tenho vida." (Vânia Toledo)

sábado, 4 de junho de 2011

Futuro planejado: o fim da aposentadoria tradicional





Gilberto Guimarães*
Até bem pouco tempo, aposentar-se era tabu. Era o fim. A própria sociedade criou o estigma de que aposentado é inútil. No começo, é até possível que as pessoas imaginem aproveitar o tempo livre como se estivessem em férias. No entanto, depois de algum tempo, são comuns os quadros de angústia, nervosismo e sensação de improdutividade. Entre as pessoas que se aposentam sem a preparação adequada, os índices de separação, depressão e tendência à solidão são muito mais altos. É compreensível que um profissional ao perder seu trabalho quando se aposenta, passe por fases psicológicas não habituais, de uma procura de si, a somatizações importantes ou a inibições.
O ato de trabalhar está ligado à necessidade humana de realização e a interrupção, ou a impossibilidade, pode desencadear sentimentos de culpa, incompetência e fracasso. A falta do trabalho é a maior causa de exclusão social. A perda ou a inexistência de trabalho/emprego, não importando as causas, demissão ou aposentadoria, provoca uma sensação de perda e ruptura. É uma ruptura com as relações estabelecidas com o emprego e com a vida fora do trabalho, o que pode provocar uma inevitável perda de sentido e, acima de tudo, uma perda de identidade. Esta ruptura pode ser vivida de maneira traumática, com um sentimento de que uma parte de si próprio e da própria história tivesse desaparecido, eliminando, desta maneira, toda esperança de um futuro. Isto continua apavorando a grande maioria dos profissionais com possibilidade de se aposentar.
Hoje em dia isso começa a mudar. A população mundial está ficando cada vez mais velha, porém, mais saudável e ativa. Pesquisas mostram que a tendência é que mais de 20% da população esteja acima dos 50 nos próximos anos. Em conseqüência, os sistemas de aposentadoria do governo, criados a partir de 1870, por Bismarck para a Alemanha unificada, estão todos, hoje, completamente falidos. A aposentadoria tradicional está com os dias contados.
Naquela época, há mais de 100 anos atrás, a expectativa de vida média das pessoas era inferior a 50 anos. Hoje, até no Brasil, segundo pesquisas recentes do IBGE, as pessoas vivem, em média, mais de 75 anos. Isso significa que alguém que se aposenta aos 55 anos, depois de 30 ou 35 anos de carreira, ainda terá mais 20 anos, de vida útil e saudável, com totais condições e possibilidade de trabalhar.
Esta segunda carreira poderá ser quase tão longa quanto a primeira e, portanto precisa ser melhor planejada e refletida. É a hora de escolher e, finalmente, poder fazer aquilo que sempre se quis fazer. A regra agora é continuar trabalhando, não só por razões financeiras, mas também por questões de realização pessoal.
O importante nessa nova fase, não é mais o ganho financeiro, mas o sentir-se útil, se ocupar, ser desafiado intelectualmente. No momento em que inicia a segunda carreira, o profissional, normalmente, está de volta à fase de precisar de menos dinheiro, porque já que não tem uma família grande para sustentar, escolas para pagar, etc., e pode começar, finalmente, a trabalhar por prazer. Neste novo contexto, a aposentadoria pode se transformar no momento certo para colocar em prática os sonhos antigos, se dedicar a trabalhar em atividades que tragam prazer, qualidade de vida e reconhecimento, muito mais do que as moedas clássicas; dinheiro, poder e status. É comum estas pessoas abrirem seu próprio negócio, trabalharem como consultores, "coachers", e professores.
O importante é estar sempre atento às inovações sociais e tecnológicas, além de acompanhar a evolução do mercado para poder continuar fazendo parte dele. É preciso planejar a carreira o tempo todo, a qualquer idade, em qualquer nível hierárquico. Quem não planeja é sempre surpreendido e, quem estiver atualizado, sempre terá espaço no mercado de trabalho, seja qual for a idade.
O processo de busca de novas oportunidades de trabalho e renda é “complexo”, mas, simplificando, podemos ressaltar alguns passos para o sucesso de uma segunda carreira profissional. Antes de mais nada, é importante ter um apoio, conselheiro especialista, para fazer um acompanhamento e para prospectar ativamente o mercado, mapeando oportunidades de trabalho com dinamismo, organização, e planejamento. É preciso estabelecer um objetivo de maneira clara e detalhada, como se fosse um projeto de vida. Quem não define para onde quer ir... tanto faz que caminho pegar.
Fazer um balanço das competências. Descobrir do que se gosta, as motivações, a capacidade de resolver problemas. É importante, também, desenvolver a capacidade de superar as dificuldades comportamentais, a pouca “disponibilidade”, a baixa estimulação, medos e sentimentos de perda e fracasso. E lembrar sempre que a carreira é apenas um veículo e não o "destino". E que este veículo tem que ser adaptado a duas coisas: ao objetivo pessoal, ou seja, o que se quer ter, ser e fazer, e a dois conceitos básicos - aquilo que de que se gosta de fazer e aquilo que se sabe fazer, ou seja, as preferências e as competências.
Com base nestas chaves estabelecer um novo projeto profissional. Afinal de contas, como já dizia meu avô, ter sucesso é poder fazer o que mais se gosta de fazer sendo pago por isto!
*Diretor Geral do Groupe BPI no Brasil e presidente do Instituto Amigos do Emprego

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