Uma das maiores autoridades da psicogeriatria, Charles Reynolds trabalha para encontrar formas de prevenir a doença em países pobres
O mundo está envelhecendo — e se entristecendo. Só no Brasil, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde 2013 (publicada em 2014), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os idosos são os que mais sofrem com a depressão. Dos 11,2 milhões de adultos diagnosticados com a doença naquele ano, a faixa etária mais afetada foi a de 60 a 64 anos: 11,1% do total.
Charles Reynolds, professor de psiquiatria geriátrica do Centro Médico da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, é referência nos estudos que articulam velhice e depressão. Conversamos com o médico durante a 33ª edição do Congresso Brasileiro de Psiquiatria. Reynolds, diretor do Instituto do Envelhecimento da universidade norte-americana, comanda ainda o John A. Hartford Center of Excellence in Geriatric Psychiatry (Centro de Excelência em Psiquiatria Geriátrica, em tradução livre). O trabalho dele tem como foco a medicina preventiva.
Charles Reynolds |
Luto, mudanças de humor, distúrbios do sono e distúrbios mentais na terceira idade são alguns dos temas abordados em suas mais de 600 publicações — que foram citadas em mais de 36 mil outros trabalhos. “Nossos trabalhos estão se destacando nos jornais especializados de maior impacto no mundo, como o Lancet, o The New England Journal of Medicine, o Jama e o The British Medical Journal”, enumera. “Com nossas pesquisas, tentamos atingir o público médico geral, além do público médico especializado em saúde mental.”
Cofundador do Global Consortium on Depression Prevention (Consórcio Global para a Prevenção da Depressão), uma rede que reúne investigadores das Américas, da Europa, do Japão, da Austrália e da Nova Zelândia, o médico também trabalha para encontrar formas de prevenir a doença em países com poucos recursos financeiros. Seu mais recente trabalho, publicado pela revista especializada Lancet, fala sobre os perigos da resistência ao tratamento, comum em pacientes idosos. “A resistência ao tratamento é um transtorno psiquiátrico comum e com grave risco de vida para pessoas idosas”, alerta.
Como as pessoas estão vivendo mais e desenvolvendo mais problemas médicos e neurológicos, podemos ver um aumento nos sintomas depressivos. Mas acho que, de alguma forma, a boa notícia é que estamos aprendendo como prevenir a depressão e já sabemos como tratar melhor a doença. Estamos tentando ensinar a nossos colegas da atenção primária a importância de rastrear a depressão para que, assim que identificada, a doença possa ser tratada adequadamente.
A depressão em idosos está aumentando ou diminuindo?
Como as pessoas estão vivendo mais e desenvolvendo mais problemas médicos e neurológicos, podemos ver um aumento nos sintomas depressivos. Mas acho que, de alguma forma, a boa notícia é que estamos aprendendo como prevenir a depressão e já sabemos como tratar melhor a doença. Estamos tentando ensinar a nossos colegas da atenção primária a importância de rastrear a depressão para que, assim que identificada, a doença possa ser tratada adequadamente.
Idosos são mais propensos a desenvolver depressão?
Alguns idosos sim, especialmente os que estão sob cuidados médicos ou hospitalizados. Quanto mais grave a comorbidade, quanto mais incapacitante a doença que o idoso estiver enfrentando for, maiores as chances de ele desenvolver depressão. Depressão em idosos é muito mais cruel que comorbidades médicas, cognitivas e/ou incapacitantes. Se você observar a comunidade idosa como um todo, os níveis de depressão são, na verdade, menores em idosos que em adultos. Mas se você olha o cenário clínico — idosos que estão com a saúde prejudicada ou que têm problemas psicossociais —, você realmente encontra níveis maiores de depressão.
Em vários trabalhos, o senhor cita biomarcadores que seriam indicativos de depressão. A ciência já sabe quais seriam esses biomarcadores?